História da Bugatti: Arte, Velocidade e Renascimento de Uma Lenda Sobre Rodas

A história da Bugatti é cheia de surpresas. A marca já ficou quase 40 anos sem lançar um carro e, mesmo assim, continua sendo uma das mais desejadas do mundo. Poucas empresas viveram tantos recomeços, superações e momentos ousados como ela.

É uma trajetória com curvas inesperadas, mistura de arte, engenharia e paixão que atravessa mais de um século — e segue acelerando rumo ao futuro elétrico.

Vamos conhecer desde o início com Ettore Bugatti até modelos como Veyron, Chiron e Tourbillon, passando pelos altos e baixos que marcaram essa lenda.

História da Bugatti: Quem Foi Ettore Bugatti e Como Começou Tudo?

A história da Bugatti começou em 1909, quando Ettore Bugatti fundou a empresa em Molsheim, cidade que na época pertencia à Alemanha. Filho de um designer de móveis e irmão de um escultor, Ettore cresceu cercado de arte.

Apesar disso, ele se apaixonou pelos motores. Sua ideia era simples e genial: criar carros rápidos, confiáveis e lindos de se ver. O primeiro modelo, o Bugatti Type 10, já mostrava essa combinação rara. Era o início de um legado que mudaria o mundo do automobilismo e do design.

(Ettore Bugatti / Public domain)

Pouca gente sabe, mas Ettore também era obcecado por detalhes. Ele projetava pessoalmente desde o motor até parafusos, muitas vezes com acabamento polido, como se fossem joias.

Essa atenção ao detalhe fez com que cada Bugatti fosse não apenas um carro, mas uma peça de arte sobre rodas.

A Era de Ouro nas Corridas

Durante as décadas de 1920 e 1930, a Bugatti dominou as pistas. O lendário Bugatti Type 35 venceu mais de duas mil corridas — feito inédito na época.

(Bugatti Type 35)

Foram cinco vitórias consecutivas na Targa Florio, uma das provas mais desafiadoras da Europa. Em 1937, o Type 57G Tank venceu em Le Mans, consolidando a fama da marca. Mesmo os modelos de rua eram projetados com alma de competição, como o luxuoso Type 41 Royale.

Além das vitórias, o Type 35 tinha um diferencial curioso: seu motor podia rodar por milhares de quilômetros sem precisar de revisão — algo raro para carros de corrida da época. Isso ajudou a construir a reputação de confiabilidade da Bugatti, um dos pilares da marca até hoje.

(Bugatti Type 57 SC Atlantic)

Entre as criações mais elegantes da década de 1930, o Bugatti Type 49 se destaca. Produzido entre 1930 e 1934, combinava desempenho robusto com refinamento estético, sendo considerado o sucessor espiritual do Type 46.

(Bugatti Type 49)

Seu motor de oito cilindros e acabamento artesanal fizeram dele um clássico admirado até hoje, perfeito para representar o equilíbrio entre engenharia e luxo característico da Bugatti.

O Papel das Mulheres na História da Bugatti

Embora o automobilismo fosse dominado por homens, mulheres ousadas marcaram presença na Bugatti. Em 1930, Odette Siko pilotou um Bugatti na corrida de Le Mans e terminou em quarto lugar — um feito histórico.

(Odette Siko, 1930 / Public domain)

Outra figura notável foi Hellé Nice, que também competiu com os modelos da marca. Essas mulheres ajudaram a levar o nome Bugatti além das pistas, provando que performance e elegância podiam caminhar juntas.

(Hellé Nice, 1929 / Public domain)

Curiosamente, Ettore Bugatti incentivava a participação feminina nas corridas, algo incomum na época. Ele acreditava que as mulheres traziam precisão e leveza ao volante — qualidades que combinavam com o espírito refinado de seus carros.

A Quase Desaparição da Marca Bugatti

A Segunda Guerra Mundial foi um golpe duro. Ettore foi afastado da fábrica e seu filho Jean, herdeiro natural, morreu testando um carro.

Sem liderança e com a Europa destruída, a empresa entrou em declínio. Tentativas de recuperação nas décadas de 1950 e 1960 fracassaram. Durante quase 30 anos, a Bugatti sobreviveu apenas na memória dos fãs.

Nesse período sombrio, alguns modelos inacabados ficaram abandonados em galpões. Muitos só foram redescobertos décadas depois e hoje valem milhões, tornando-se tesouros para colecionadores e museus automotivos.

O Renascimento com o EB110 nos Anos 90

Em 1987, o empresário Romano Artioli comprou os direitos da marca. Ele construiu uma nova sede em Campogalliano, Itália, e em 1991 lançou o supercarro Bugatti EB110.

Bugatti EB 110 (Divulgação/Bugatti)

Com motor V12, quatro turbos e tração integral, o modelo era um avanço impressionante — um hipercarro antes de o termo se popularizar. No entanto, os altos custos e as vendas baixas levaram à falência. A centelha, porém, estava acesa.

O EB110 também marcou o retorno da Bugatti ao cenário internacional, com direito a clientes famosos como Michael Schumacher. Mesmo não sendo um sucesso comercial, ele ajudou a mostrar que a marca ainda era capaz de criar máquinas à frente de seu tempo.

Bugatti EB 110 (Divulgação/Bugatti)

A Nova Era com o Grupo Volkswagen

A virada definitiva veio em 1998, quando o Grupo Volkswagen adquiriu a Bugatti. A missão: criar o carro mais rápido e sofisticado do mundo.

(Bugatti Veyron)

Em 2005, surgiu o Veyron, com motor W16 de 1.001 cv e velocidade acima de 400 km/h. Foi um marco absoluto. Depois vieram o Veyron Super Sport, Grand Sport Vitesse e outras edições que continuaram a empurrar os limites da engenharia.

O Veyron exigiu tanta inovação que a Bugatti chegou a perder dinheiro em cada unidade vendida. O custo de produção era tão alto que o modelo foi praticamente um “cartão de visitas” para reafirmar a supremacia tecnológica da marca.

O Impacto do Bugatti Chiron

Lançado em 2016, o Bugatti Chiron elevou o patamar com 1.500 cv. Manteve o motor W16, mas uniu luxo extremo e controle de pista.

(Bugatti Divo)

Derivaram dele versões especiais como o Divo (mais ágil em curvas), o Centodieci (homenagem ao EB110), o Bolide (para pistas) e o Mistral (roadster exclusivo).

O Chiron também bateu recordes de velocidade e aceleração, mas o que mais impressiona é a combinação de desempenho brutal com acabamento artesanal. Cada unidade leva meses para ser montada, com costura à mão e personalização quase ilimitada para o cliente.

(Bugatti Chiron)

A União com a Rimac e o Futuro Elétrico

Em 2021, a Bugatti se uniu à croata Rimac, especialista em esportivos elétricos como o Nevera. A nova empresa, Bugatti Rimac, manteve a sede em Molsheim.

A Rimac trouxe tecnologia de eletrificação de ponta, enquanto a Bugatti preserva a tradição e o design refinado. O objetivo: criar os carros de luxo mais inovadores do mundo.

Essa parceria é vista por especialistas como um movimento estratégico para garantir que a Bugatti continue relevante na era da eletrificação — sem abrir mão do luxo e da exclusividade que sempre marcaram sua identidade.

O Tourbillon: Uma Nova Fase

Em 2024, a Bugatti apresentou o Tourbillon, sucessor do Chiron. Com motor V16 híbrido e três motores elétricos, entrega 1.800 cv.

Bugatti Tourbillon (Divulgação/Bugatti)

Inspirado na relojoaria de luxo, o nome simboliza precisão e durabilidade. É possivelmente o último modelo a combustão da marca, marcando a transição definitiva para a era elétrica.

O Tourbillon é tão sofisticado que inclui elementos criados por mestres relojoeiros, e sua produção será extremamente limitada. Cada unidade será praticamente única, reforçando a exclusividade que acompanha a história da Bugatti desde o início.

O Que Torna a Bugatti Única

Mais que velocidade, a Bugatti é arte, engenharia e história. Cada modelo carrega a alma de Ettore e de todos que acreditaram que um carro pode ser uma obra-prima.

Bugatti Tourbillon (Divulgação/Bugatti)

Quem dirige um Bugatti não apenas acelera — participa de um legado.

Outro ponto que a diferencia é o compromisso de não comprometer nenhum aspecto em nome do custo. Se uma peça pode ser feita melhor, ela será feita, mesmo que isso signifique semanas adicionais de produção.

Por Que a História da Bugatti Encanta Até Hoje

A história da Bugatti é feita de recomeços. Uma marca que já morreu e renasceu mais de uma vez, sempre mantendo essência e ousadia.

Poucas empresas atravessam tantas décadas sem perder identidade. E enquanto houver estrada, alguém vai querer cruzá-la ao volante de uma lenda dessas.

Assim como uma obra de arte que nunca envelhece, cada Bugatti carrega um pedaço da visão original de Ettore — e isso é o que mantém viva a paixão por esses carros em todo o mundo.